Ao povo peço licença à musa inspiração Modo eu contar um drama vivido no meu sertão Da índia que apunhalaram em riba do coração
Seu nome era Cantofa e tinha uma neta Jandi Era uma menina fêmea, bonita como Araci A estrela da manhã, tapuias do Apodi
Nas eras mil setecentos, o ano sessenta e um Tiraram do Apodi os tapuios Paiacú
Para a Serra dos Dormentes foram todos transferidos No dia doze de junho o rancho foi removido
Pedido dos curraleiros que se achavam irritados Porque os índios tapuias viviam matando gado
O juiz Castelo Branco, na serra fundou a vila Pôs nome de Portalegre, inda hoje é conhecida
Num sítio da serra haviam os índios Pêgas morado Lhes expulsaram os Paiacús, por dois brancos chefiados
Ali nasceu um sambudo que batizaram de João Apelido João do Pêga por ser daquele torrão
Os fazendeiros cercavam João e seus companheiros Que viviam caçando gado criado no tabuleiro
Tapuios e brancos brigavam por este mesmo motivo Pro índios gado era caça, pro branco bicho cativo
Em 1817, houve uma revolução Morreu André d'Albuquerque, mataram a traição
Pra não entrar nessa briga os índios se retiraram Aí roubaram suas terras os brancos que ali ficaram
Oito anos depois, e ainda havia confusão O coronel Vieira Barros pôs fim na situação
Prisioneiro que fora, na cadeia da Bahia Porque era patriota e igualdade queria
Mandou libertar os índios que estavam na cadeia Que faziam confusão por ter perdido a aldeia
Mas os índios que foram soltos, mesmo assim se revoltaram E açulados por Cantofa, certo dia atacaram
O chefe foi João do Pêga, mataram o delegado O coronel Barros se matou, foram os índios acorrentados
Setenta jovens tapuios para Natal eram escoltados Porém foram em Viçosa pelos brancos fuzilados
Só escapou João do Pêga, por arte de bruxaria Fugiram 330 depois desta covardia
Mas Cantofa e Jandi ficaram ali escondidas Cantofa por ser tão velha e Jandi pouco crescida
Um caçador viu no mato Jandi a colher caju Correu ligeiro pra vila e armou-se o sururu
O Povo veio pra matar quem os índios revoltara Causando a morte de Barros, e o delegado matara
Mas o povo desvaneceu de acabar a pajé Somente o caçador não se comoveu da fé
Cutuca o peito um punhal, daquela pobre curuca Jandi lhe abraçou chorando, o povo abriu as butucas
Com os olhos cor de pitanga, voltaram todos pra vila Deixaram Jandi chorando, Cantofa ali estendida
Esta cena comovente deixou todos comovidos João do Pêga, um caçador, achou no mato escondido
O governo o perdoou depois daquele ocorrido O povo lhe venerou e viveu bem assistido
Num lugar chamado Bica De Cantofa e Jandi, veja um mistério que fica
Morreu Cantofa na bica, Jandi desapareceu E ficou mal assombrado, no canto que ela morreu
Compositor: Jose Viana Ramalho (Dude Viana) (SBACEM)Autor: Aucides Bezerra de SalesPublicado em 2009 (02/Fev) e lançado em 2009 (10/Mar)ECAD verificado obra #3043478 e fonograma #1474175 em 07/Abr/2024 com dados da UBEM